sexta-feira, 16 de julho de 2010

A condição humana: barbárie ou dignidade?

Afirma-se no senso comum que o mundo é o teatro da vida, nele todos nós somos artistas cumprindo determinado personagem. O teatro é espaço democrático e por isso, ele apresenta a condição humana por meio de alegria, angústia, comédia, tristeza, dor, morte, vida, ou seja, em outras palavras ele apresenta o cotidiano da humanidade. Mas, ali no palco montado, as cenas são recriações ou resultados da criatividade do diretor. O fato apresentado provoca em nós diversas reações dependendo do espetáculo e de nossa situação emocional.

Na história da humanidade, como palco da realidade concreta do ser humano a condição humana não é apenas cenas recriadas para serem encenadas, mas a própria realidade que se faz por meio das ações individuais ou coletivas. Vive-se nos dias atuais, grande espetáculo da barbárie em nossas cidades. A vida totalmente desvalorizada e descartada é banalizada e reduzida a mero objeto sem valor e que pode ser manipulado, destruído e esquartejado na calada da noite ou à luz do dia. Assim, no palco da vida assistimos ao show da violência e da morte, como que anestesiados e assombrados com o tempo acostumamos com o espetáculo.

O que fazer? O homem evoluiu nas áreas de ciência, tecnologia, educação, saúde, agricultura e lazer, porém ele se volta para sua animalidade, deixando a civilidade e, portanto o valor da vida como centro das relações humanas. A vida é aborto a todo instante, recordando a famosa frase do filósofo político Thomas Hobbes que afirmava que “o homem é o lobo do próprio homem”. O homem civilizado instaura a guerra novamente. É a barbárie que ressurge para ficar, pois basta conferir nas mídias o estado da condição humana. Não podemos permanecer calados mediante o espetáculo da barbárie. É urgente reafirmar e instaurar o respeito à vida por meio de toda a sociedade a iniciar pelo Estado e todos os seus órgãos criados para manter a ordem e o respeito em relação às liberdades individuais e coletivas.

A família, a escola, a religião e todos os outros setores da sociedade devem levantar a bandeira da dignidade humana e exigir que a justiça se cumpra em nossos tribunais e que os culpados sejam reeducados por meio do trabalho e da educação, revertendo a pena em benefícios da sociedade e não simplesmente manter a prisão do corpo, cuja mente desocupada arquiteta o crime e as maldades contra o público externo. Como afirmava o pensador Merleau- Ponty “é necessário reaprender a ver o mundo”, isto é, a sociedade atual deve reaprender a enxergar no outro o caminho de uma convivência fraterna, mesmo existindo as divergências de idéias, mas destacando que somos cidadãos e habitamos do mesmo palco, porém sem assumir a barbárie, mas o respeito e a cooperação em defesa da vida.

Por fim, a cidade deve ser espaço da vida em que a condição humana seja contínua transformação para a civilidade, onde a amizade seja o valor máximo entre os habitantes, cuja corrupção, mentira e ódio sejam erradicados do coração do homem. Que o espetáculo da vida continui com o esforço e a dedicação de cada brasileiro e que não repitamos os erros da violência e da indiferença no teatro da vida.